sexta-feira, janeiro 04, 2008

Casamento: Desapaixonar-se Para Crescer...

A maré não tá pra peixe no mar dos relacionamentos. O Ibge diz que hoje no Brasil a maior parte dos divórcios se dá entre casais com até dois anos de união. Pasme! Lembra da crise dos "sete anos"? Pois é, a tolerância baixou, e agora a crise é de "dois anos".
As promessas da modernidade não se cumpriram. Diziam que "na medida em que o conhecimento da humanidade e a tecnologia aumentássem, também cresceria a felicidade". Não é o que vemos. Nunca tivemos tantos "doutores e pós-doutores" que podem ser ao mesmo tempo "analfabetos relacionais".
Desaprendemos o permanecer, o crescer juntos e ficamos correndo atrás do canto da sereia, da possibilidade de felicidade plena "no próximo relacionamento". Tomamos "pau" na matéria 'resolução eficaz de conflitos' e caminhamos vida a fora colecionando desafetos e casos mal resolvidos. Resultado: infelicidade.
É claro que não defendo que "casamento é casamento e acabou...entrou nessa agora só a morte poderá separá-los". Casamento tem que ter adjetivo: "satisfatório, proveitoso, gerador de crescimento, etc". Se não tá legal tem que se mexer, buscar solução, ajuda, o que for, mas montar em cavalo morto não dá. Aliás, tem gente que nunca busca o auto-desenvolvimento porque o cônjuge não toma atitude alguma. Tem pavor da solidão. O amor, diz a santa Bíblia, lança fora o medo. Um bom casamento tem confronto, conflito, coloca-se limites e corre-se atrás do prejuízo. Ficar fazendo cara de bonito nas fotos das festas de família, mas ir dormindo chorando, não dá. Tem gente que por medo do sofrimento desconhecido, matêm-se no sofrimento conhecido.
Um bom casamento é formado por pessoas em crescimento. É assim que o casamento fica gostoso: quando é formado por duas "pessoas" e não aquele que desemboca numa simbiose, que em geral envolve um "dominado" e um "dominador".
Um bom casamento é formado por dois seres inteiros, que curtem a si próprios antes de curtirem o outro. Falo da capacidade de ser amigo de si mesmo, ter projetos próprios, algo a fazer de suas vidas neste planeta.
Um bom casamento é aquele que abre espaço para o outro ser, dar suas opiniões, discordar, ser autêntico no assumir os próprios limites e congruente nas capacidades de "sentir, falar, pensar e agir".
Um bom casamento é libertário e não dominador. Libera-se intencionalmente o cônjuge para tornar-se tudo aquilo que nasceu pra ser: um ser inteiro, não fragmentado. Tudo aquilo que sabota o crescimento do outro é um atentado contra a liberdade.
Um bom casamento é aquele onde a perda da ilusão chamada "paixão" não gera esfriamento, mas crescimento. O amor trabalha com dados de realidade. Não dá pra amar a vida inteira um "ícone" das próprias carências. Ao tempo em que a "deusa" da paixão se quebra com o descobrimento do "outro real", forma-se aí também o húmus necessário para o amadurecimento do ser humano.
Desapaixonar-se é necessário. A paixão é o que nos torna "vivos", dizem alguns, mas não falam que depois ela nos mata. Manter-se apaixonado é tolice. Trata-se de insistir em acreditar na mentira de que "alguém" pode ser tudo para mim.
Precisamos de mais projetos - do que o 'casamento' - para nos tornarmos 'inteiros'. Precisamos de amigos, esporte, trabalho, realizações e acima de tudo de espiritualidade. Deus é fundamental para darmos conta da dor que sentimos quando a ficha cai e assumimos que a relação do casamento não é tudo que precisamos para alcançarmos "o céu em vida".
Acho que foi o grande mestre Pr.Ivênio dos Santos que propôs a seguinte dinâmica do casamento: ao invés de "deslumbramento-casamento-conhecimento-esfriamento", podemos buscar "deslumbramento-casamento-conhecimento-crescimento". Tô com ele!
Apostar todas as fichas da realização na vida no cônjuge, é covardia. Ser humano algum pode dar conta desta expectativa.
Livrar-se da paixão, deixar que ela se esvaia e até soltar fogos no dia de seu enterro é fundamental para começar a trabalhar duro na construção do amor. Amar é a construção diária de uma relação baseada em 'respeito, liberdade e espiritualidade'. Sem este tripé não funciona.
Vejo em Jesus Cristo o ser humano (sem deixar de ser Deus...) que todos nós nascemos para ser. Ele foi completo, inteiro consigo, o próximo e com Deus. Soube ser com os outros, sem impor que os outros fossem como ele e também não aceitando dominação alheia. Em Jesus encontramos a fonte que pode nos sustentar em meio aos desertos da relação conjugal. Ele, por Sua obra redentora, objetiva reconstruir-me à imagem e semelhança do Pai, restaurando minha humanidade e tornando-me apto para aprender a amar o outro de forma madura e geradora de crescimento. Cristo oferece-se para ser o interlocutor de minhas relações verticais e horizontais. Ao permitir que Ele lidere nossas vidas, teremos encontrado muito mais do que "um mapa" para as relações. Ele se dispõe a ser "o guia" seguro, e se obedecermos ao Seu "segue-me", a promessa não é de que o casamento será perfeito, mas sim que fomentará o ambiente necessário para que nos tornemos tudo o que nascemos para ser: seres em constante crescimento, até atingirmos a estatura do "varão (homem) perfeito" - Cristo!!!

Um comentário:

Filipe B. Macedo disse...

Mô...vc é incrível!!!Desejo que o nosso casamento seja sempre um constante crescimento.Tenho aprendido muito neste relacionamentoque é mais que um casamento, é uma relação de amizade e companheirismo. Meu desejo é permitir o seu crescimento, assim como tenho crescido e "aprendido a viver" ao seu lado.Te amo muito... e, parabéns pelo seu blog, ele está fantástico, um verdadeiro lugar de aconchego e aprendizado... amo ler e ouvir tudo o que vc escreve!!!Bjs Mô