sábado, setembro 13, 2008

Amor e Controle

Desde sempre nossa maneira de “amar” esta impregnada pela idéia de “controlar”. Nosso amor é possessivo. Declaramos “meu marido”, “minha esposa”, “meus filhos”, etc. Nosso sentido de amar é quase sinônimo de “possuir”. E assim, aquilo que entendemos como a dinâmica do amar termina por sufocar a experiência que mais poderia nos aproximar da semelhança com o criador: amar libertando.
Sei que neste momento da leitura os “possuidores de plantão” já estão com a mente repleta de argumentos: “mas quem ama cuida, protege, responsabiliza-se, é zeloso, etc.” É, eu sei disto tudo e concordo, em parte. Existe um limite saudável entre possuir e cuidar, difícil de encontrar, mas não impossível. Trata-se de saber cuidar sem manipular, exortar sem querer provocar culpa, relacionar-se sem misturar-se. Falo do amor maduro.
Sofremos demasiadamente em nossas relações afetivas porque nos misturamos com o alvo de nosso bem querer. Só ficamos “bem” quando o outro está bem. A identidade confunde-se e o projeto de vida de um fica dependente do outro. O resultado é sofrimento e uma forma de amar que em nada se parece com o amor divino.
Deus é ser pessoal e infinitamente perfeito em Sua forma de nos amar. Mas Ele nos criou livres e assim relaciona-se conosco. Sua intenção de levar-nos à perfeita maturidade, passa necessariamente por deixar-nos assumir as conseqüências de nossas decisões. Ninguém cresce fora da decisão. Isto não é abandono, mas condução ao viver responsável. Não se trata de frieza, mas de sabedoria em educar. Ele não é frio em Seu amor, mas sim comprometido em resgatar a pessoa inteira, indivíduo e indivisível que manifestou-se em plenitude na maneira de Cristo Jesus viver: o ser humano mais maduro em amor que pisou neste planeta.
Ou amamos ou possuímos. Quando nossa forma de amar o outro implica na anulação de sua individualidade entramos no que tem sido chamado de co-dependência, também chamada de relação simbiótica. O verdadeiro amor liberta. Incentiva o outro a se tornar tudo o que nasceu para ser. Permite que o outro seja “outro”, e não tenha que viver para atender todas as suas expectativas.
Colocar limites e proteger o relacionamento nada tem a ver com aprisionar o outro nos grilhões de nosso amor. “O amor lança fora o medo”. Neste sentido, amar é também um genuíno ato de fé. Só ama assim aquele que confia em Deus. Não um Deus que levará o outro a fazer tudo o que queremos e conforme desejamos. Mas um Deus-amigo que estará sempre ao meu lado aja o que houver. Ao amar assim, permitindo que o outro tenha espaço para ser ele mesmo, aceitando as discordâncias possíveis sem retaliação, o ser humano torna-se extensão do amor de Deus na vida do outro.
É verdade que amar assim é sempre arriscado. Mas entenda: amar de qualquer forma é sempre arriscado! Não há promessas, pois o outro é sempre livre, e no fim, fará sempre o que decidir. A diferença em não misturar amor com posse é que não estaremos enganando a nós mesmos com a pretensão de que “temos tudo sob o controle” de nosso amor.
Só Deus sabe todas as coisas: passado, presente e futuro. Ele já está lá na frente em Seu amor providente. Ele e somente Ele pode cuidar em todos os momentos dos nossos queridos, e tentar fazer o papel dEle é o caminho certo para a depressão e a destruição da relação de respeito com os outros.
Amemos com fé! Saibamos reconhecer nossos limites! Livremo-nos do “controle” que se utiliza sempre das ferramentas da “culpa, sedução ou ameaça” para conduzir o outro na relação conosco. Deixemos os outros partirem emocional, física e intelectualmente para longe de nós. Como o Pai da parábola que não impediu o “filho pródigo de partir”, mas com o coração cheio de fé ficou esperando na porteira, lubrificando-a com suas lágrimas e orando baixinho Àquele que tudo pode. Afinal, como nos ensinou o “filho mais velho”, permanecer por perto (em casa) fazendo a vontade do Pai não é garantia de relacionamento honesto e comunhão real.

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