domingo, junho 10, 2007

Amar e gostar: realidades distintas


Uma coisa é amar, e outra é gostar. Gostar nasce no coração, envolve empatia, química...é quase instantâneo: "fui com a cara daquela pessoa", dizemos. Gostar tem mais a ver com os sentimentos, os quais são bastante voláteis e sazonais.
O amor é diferente. Amar é um verbo, antes de ser um substantivo ("amor"), logo, 'palavra que descreve ação'. Amar é uma decisão do cérebro. Até envolve sentimentos, mas antes de tudo é um ato da vontade. Amar de verdade, de forma madura, é tomar a decisão de tratar o outro com excelência; não como ele merece, mas como precisa. Amar, disse Erick Fromm, é respeitar, cuidar e zelar. Nada tem a ver com a paixão! Amar até envolve e mobiliza sentimentos, mas antes de tudo, é uma disciplina, uma postura e uma atitude diante da vida e do outro.
Sendo assim, é possível entender a ordem do Cristo de "amarmos nossos inimigos". Ele não nos mandou "gostar". Gostaremos de alguns na vida, mas o amor podemos oferecer a todos, indistintamente, até àqueles que pisam em nossa unha encravada. Amar é tomar a decisão de não revidar a afronta, de não usar as armas das trevas, de abrir mão da vingança. Foi Gandhi quem disse que quando não revidamos a ofensa recebida de nosso ofensor, ele se cobre de vergonha, mas quando revidamos, ele se sente justificado em sua atitude de nos machucar.
Quanto terminam seus casamentos e dizem: "o amor acabou". Como? A Bíblia afirma que o amor jamais acaba!?! Na realidade, quando isto ocorre, acabou a paixão ou o chamado "amor romântico", o qual é ilusório e passageiro, pois está alicerçado na idealização que fazemos do outro. O amor real implica em conhecimento: só podemos amar aquilo que conhecemos, o que naturalmente ocorre quando aprofundamos a relação. Neste sentido, quando a ilusão acaba, é hora de começar a amar. Quando as máscaras se vão é que chega a hora de sermos suficiente lúcidos e nos dispormos a amar o "outro real".
Pe.Antônio Vieira disse que "as promessas da paixão só podem ser cumpridas pelo amor". A paixão faz promessas que não pode cumprir, mas apenas o amor. Logo, se a paixão não se torna amor, suas promessas cairão por terra e jamais se cumprirão.
Entendo que o que estou afirmando é um "duro discurso". Quanto saindo pela vida à fora de "caso em caso", "parceiro em parceiro", em busca daquele(a) que ainda não foi encontrado e por isso as relações não dão certo.
O amor é o sentimento dos seres imperfeitos. É necessário "amor" onde as pessoas são falhas...onde há perfeição, o amor não é necessário e sim a "adoração". Quando nos relacionamos com alguém que julgamos "perfeito", nossos sentimentos beiram a "devoção", mas tão logo essa miragem se desfaça, brotam a decepção e por vezes até a ira.
Podemos sempre tomar a decisão de amar. Amar a todos, sem escolher, optando por oferecermos ao próximo o melhor de nós mesmos: respeito, consideração, serviço, atenção, perdão. O que tenho aprendido, é que quando assim nos decidimos, quase sempre passamos a gostar daqueles que deicimos amar. A maioria das pessoas não é tào ruim e nem tão boa. A maioria de nós está numa "grande média": nem tão bons quanto nascemos para ser e nem tão maus como poderíamos nos tornar. O que ocorre é que por vezes conhecemos alguém num momento difícil, numa hora ruim...encontramos o outro pelo avesso. Daí rotulamos e dizemos: "fulano não serve pra mim".
A decisão de amar é parte do que significa termos sido criados "à imagem e semelhança de Deus". Mesmo nos conhecendo de dentro pra fora, e portanto não possuindo nenhuma ilusão sobre os "bonecos de barro" que criou, Deus decidiu nos amar - seres imperfeitos. E quando assim também procedemos, ficamos mais santos, mais cristificados, mais cristãos ('pequenos cristos').
O mundo precisa de menos "paixão" e de mais "amor". Quando assim nos decidirmos, provocaremos uma revolução de tal monta, que não saberemos se subimos ao céu ou se o ceú baixou até nós.

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