domingo, junho 24, 2007

Espiritualidade Mundana

Vivemos numa tempo de grande efervescência espiritual. Nunca se viram tantas propostas e nuances de espiritualidade.
Confesso que me assustam as propostas (algumas evangélicas...) de espiritualidade "extra-terrena". São vozes que se levantam e parecem convidar a todos para entrar numa espécie de 'nave espacial celestial' por meio da qual iremos para a verdadeira vida: a espiritual (sinônimo de 'não físico'), afinal, este mundo vai ser mesmo destruído...dizem...não eu.
Bem, parte-se da idéia de que a matéria é má, portanto, para alcançarmos plenitude de vida teremos que nos livrar de tudo quanto é palpável, e assim vivermos no "mundo espiritual', ou se quiser, no 'mundo das ideias', pra ser mais platônico.
O cristianismo não crê assim. Cremos que tudo quanto foi criado é bom, e que o evangelho visa a restauração de 'todas as coisas'. Para o cristianismo, 'espiritual' não é sinônimo de 'não físico', mas refere-se ao caráter como algo é utilizado: conforme o que Deus deseja = espiritual; fora da vontade de Deus = carnal (o que não significa 'matéria', mas o fato de ser utilizado fora dos propósitos de Deus).
Sendo assim, creio que podemos e devemos nos abrir para uma espiritualidade mundana, ou seja, do mundo, da terra, afinal, o "logos criou o cosmos"; e também é lícito experimentarmos Sua presença por meio de 'tudo quanto Ele criou'. Ou seja, não apenas nos lugares 'sagrados' (templos, Jerusalém etc...) mas também na cozinha, no estádio, nas ruas e etc, podemos nos nutrir da divina presença.
Dentro desta visão, as coisas mais ordinárias como receber um beijo do filho e experimentar um café fresquinho, podem se tornar verdadeiras janelas da alma, escadas de Jacó, onde perceberemos a verdade de que céu e terra não estão completamente cindidos e que em alguns momentos do cotidiano podemos ver os céus abertos, a eternidade em curso e Deus novamente dando as caras no jardim.

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