segunda-feira, dezembro 31, 2007

Rituais de Passagem e o Final de Ano

O final do ano é um tempo sempre marcado por uma gama perceptível de emoções na alma. Uns sentem medo do imprevisível, outros, angústia pelo desperdício que foi o ano findo, e ainda outros, tédio.
É sempre assim nos rituais de passagem (aniversários, nascimento e morte, casamentos, despedidas...). Eles nos colocam em ebulição emocional. Estamos diante do novo, do não previsível e não há cartas marcadas. Não há promessas.
Tentamos planejar, arquitetar ações e influenciar o futuro, mas a verdade nua e crua é que ele mais parece um corcel indomável que um burrinho de presépio.
As pessoas, nestas épocas, fazem pedidos, querem ouvir as previsões dos 'gurus' de plantão, buscam se benzer, e etc, mas ainda assim, cada novo ano que começa é uma caixinha de surpresas: sabe lá o que vai aparecer...
Os rituais de passagem marcam o fim de um ciclo e o início de outro. Eles dão ritmo a vida, ainda que nem sempre percebamos a melodia. São momentos poderosos pois se abrem como um portal existencial no qual podemos avaliar nossa caminhada até então, e reinventarmos nossa estratégia de sobrevivência. Mas, ainda assim, não há promessas...o que há então? Terror? Absurdo? Deve-se esperar a tragédia sempre?
Absolutamente. O cristianismo nos oferece no relato dos evangelhos uma mensagem extraordinária de consolo e certeza diante das vicissitudes da vida: o batismo de Jesus.
Na cristandade o batismo é também um ritual de passagem. Marca o fim de uma experiência e pontua o início de uma nova caminhada: antes sem Deus, e desde então imersos em Deus.
Jesus, dando-nos exemplo, batizou-se. Lembre-se que Ele estava prestes a iniciar seu ministério público. Até então vinha 'voando abaixo dos radares', mas dali em diante estaria diante do holofotes, da mídia palestina e da possibilidade de sucesso ou fracasso, realização ou desgraça...e sabemos dos capítulos finais.
Bem, foi neste momento de passagem, onde o Cristo que era perfeitamente humano (quanto perfeitamente divino...) estava inundado das mesmas emoções que "eu e você" nestas travessias da vida, que o Pai fez questão de afirmar: "Eis o Meu Filho Amado que me dá muito prazer".
Jesus estava ciente de Sua missão. Sabia o final da história e que depois da entrada triunfal em Jerusalém, viria o inferno da crucificação. Ainda assim, Ele nunca havia passado por tudo aquilo e como ser humano pleno que era, certamente tremeu.
As palavras do Pai trouxeram segurança. Não envolviam a promessa de livramento perfeito e de que Ele pouparia o Filho na derradeira hora. Elas ofereciam a confirmação do amor incondicional do Pai. Posso ler da seguinte forma Sua declaração: "Filho, aja o que houver - e houve... - você é meu Filho Amado e nada pode mudar isto, nada, nem a cruz".
O que nos faz sentir horror diante do futuro não é apenas a possbilidade do fracasso. Há algo mais sério e profundo e jogo. Tememos que, ao fracassar e decepcionarmos a todos, percamos o amor e a aprovação daqueles que nos são caros. Entra em jogo a inteireza de nosso ego e a certeza de nosso valor último.
O Filho precisava de combustível para seguir em frente e o Pai o abasteceu: Seu amor pelo Filho era inegociável!!!
O que podemos esperar diante deste novo ano, deste ritual de passagem que temos que enfrentar? Podemos nos preparar, alinhar os objetivos e metas, mas ainda assim, não há promessas. Uma certeza, no entanto, pode nos sustentar: "somos, em Cristo, os filhos amados do Pai". Isso não significa Green Card diante da tragédia, mas a certeza de que, como disse Yancey, "não podemos fazer nada para Deus nos amar mais; não podemos fazer nada para Ele nos amar menos. Ele nos ama e "ponto final".
Não sei o que me espera em 2008. Desejo o melhor para mim, minha família e amigos. Mas sei que não há promessas. Uma certeza me ampara: "Ainda que meu pai e minha mãe me abandonem, Ele jamais me abandorá - sou dEle!!!

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