sábado, novembro 01, 2008

O Shabbath E A Graça

A guarda do sábado está no centro de toda a espiritualidade cristã, entendendo-a como um princípio de vida e não como uma regra a ser seguida ao pé da letra. Quando adotamos a prática de guardar um tempo a cada semana para fazer uma pausa, estamos abrindo espaço em nossa vida para a graça de Deus.
No sábado, o povo judeu nada fazia, pois entendia que “tudo” já havia sido feito, mesmo que não estivesse. O judeu guardava o sábado como um ato de obediência, mas também de adoração e surpresa diante de tudo quanto Deus lhe havia concedido. Era um dia para estar à disposição de Deus e dos amados do coração.
Temos a tendência, depois de um tempo, de nos acostumarmos com as coisas e então deixarmos de notá-las. No início do romance, ficamos maravilhados com os diferentes tons de cor nos olhos de nossa amada sob determinado reflexo do sol sobre sua retina. Depois de um tempo, conversamos com ela sem nem ao menos olhá-la. Perdemos o “maravilhar”, tornamo-nos sonâmbulos no amor.
O shabbath para o povo de Deus tinha o objetivo de fazê-los “parar e olhar, dar atenção”. Era um dia para dizer “obrigado”. A simples admiração diante da vida, da criação, do lugar onde habitavam exigia uma resposta, um agradecimento, um shabbath. Ao resgatarmos o estilo de vida sabático estamos afirmando que não precisamos de mais nada para ser gratos. Somos gratos. Já recebemos muito, quando nada merecíamos. Trata-se de um dia para dizer que “estamos satisfeitos”. É dar um basta na febre que adoece a alma e a faz arder a todo instante atrás da última novidade. É pisar fundo no freio do carro em alta velocidade chamado “diversão-distração-dispersão”. É um dia em que perguntamos, já sugerindo a resposta adequada: “porque não nada?”. Isso é treinar o coração para perceber a bondade de Deus.
O mandamento diz “guarda o sábado para o santificar”. A verdadeira santificação exige uma vida com pausa. Não se torna uma pessoa espiritual, santa, separada para Deus, andando rápido demais. Há um jargão que devia ser revisto que diz: ‘Deus não usa os desocupados’. Não sei não, acho que não é bem assim. Davi tinha tempo para compor poemas. A meditação (tempo separado para deixar a Palavra germinar em nossa mente...uma atividade intelectual-moral intencionalmente praticada...) é sugerida por toda a Bíblia para os que desejam ser usados por Deus. Jesus cavava em sua agenda messiânica a todo instante, momentos a sós com o Pai, às vezes uma noite inteira.
Penso que Deus precisa de pessoas que saibam fazer pausas. Gente que não se sinta incompetente e ou preguiçosa ao tirar umas horas, uma tarde ou mesmo um dia inteiro para celebrar. Deus precisa de pessoas que saibam colocar em suas agendas tempo para o ócio criativo, onde a alma, à disposição do Espírito, poderá ser restaurada e tornar-se novamente fecunda para Deus, o próximo e para a Igreja.
Quando paramos e desfrutamos daquilo que o Senhor já nos deu, estamos anunciando a salvação pela fé. Parar e desfrutar, é um ato de confiança. O shabbath, expressa o descansar no trabalho e nas realizações de Deus, na justificação pela fé, na obra perfeita de Cristo na Cruz.Saber parar e descansar é um testemunho de fé num mundo viciado em agitação e barulho. É desfrutar das infinitas riquezas da graça, concedidas a todos gratuitamente, em Jesus. Praticar a desaceleração orientada pela guarda do sábado, é estar no mundo como uma testemunha viva da felicidade que só podemos encontrar no amor incondicional – não comprado e nem merecido, mas doado – de Deus em Cristo Jesus. Acho que daí vem o termo “vida desgraçada”: viver sem dar atenção a graça.

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